Hello bet: Torcedor surdocego acompanha jogos do São Paulo em campo tátil

Carlinhos, de 34 anos, é portador da síndrome de Usher e contou com ajuda de amigo guia-intérprete para celebrar título

Carlinhos, de 34 anos, é portador da síndrome de Usher e contou com ajuda de amigo guia-intérprete para celebrar título do Paulistão

Adalberto Leister Filho e Iara Oliveira, da CNN, em São Paulo

26/05/2021 às 20:02 | Atualizado 07/04/2023 às 19:07

Carlos Alberto Santana Junior, conhecido como Carlinhos, tem 34 anos e é surdocego, mas mesmo assim acompanha os jogos do São Paulo, seu clube do coração. Ele possui a síndrome de Usher, uma condição que causa perda auditiva e diminuição da visão ao longo do tempo. O toque desempenha um papel fundamental na vida deste fervoroso torcedor do São Paulo.

Carlinhos assiste às partidas com a ajuda do guia-intérprete Hélio Fonseca de Araújo, de 40 anos. A dupla aprendeu uma técnica especial durante uma viagem às Filipinas, onde participaram de um encontro de guias-intérpretes e surdoscegos. Após essa experiência, Carlinhos começou a acompanhar os jogos de seu time favorito.

O campo tátil permite que Carlinhos sinta as marcações do jogo. O guia-intérprete comunica-se de maneira tátil, informando sobre a posse da bola, o número dos jogadores, se houve falta, impedimentos, cartões amarelos ou vermelhos e, claro, se houve gol.

A emoção de um jogo de futebol é plenamente vivida por Carlinhos, com o auxílio de Hélio.

Amizade

A amizade entre Carlinhos e Hélio data de mais de 15 anos, quando se conheceram em um evento voltado para deficientes visuais na igreja onde Hélio frequentava. Embora já trabalhasse como guia-intérprete para cegos, Hélio não tinha experiência com surdocegos. Atualmente, ele e a esposa atuam como intérpretes de Libras na programação da TV Cultura.

Após conhecer Carlinhos, Hélio decidiu se especializar em atender surdocegos. Em 2014, eles viajaram para as Filipinas para participar de um encontro internacional. Foi nesse evento que aprenderam sobre o campo tátil, permitindo que Carlinhos acompanhasse jogos do São Paulo. Sua primeira experiência nesse novo formato ocorreu durante a Copa do Mundo de 2014. Juntos, Hélio, Carlinhos e mais dois autores escreveram o primeiro livro no Brasil focado nesse tipo de deficiência.

Hélio se esforçou para tirar Carlinhos da sua zona de conforto. Um momento marcante foi quando levou Carlinhos ao parque aquático Wet’n Wild, onde ele se divertiu em um toboágua alto, superando as expectativas.

“Fui necessário chamar a direção do parque, pois os seguranças hesitaram em deixá-lo descer devido à sua deficiência. Mas conseguimos!”, afirma Hélio. Desde então, Carlinhos percebeu que podia realizar muitas coisas, incluindo saltar de paraquedas, uma experiência que Hélio ainda não experimentou.

Carlinhos começou um curso de fisioterapia, mas precisou abandoná-lo devido à falta de acessibilidade. Mesmo assim, formou-se em massoterapia e trabalhou na Avenida Paulista até o início da pandemia. “Ele mora ao lado da estação de trem, pega transporte público, faz baldeações no metrô e chega ao trabalho sozinho”, explica Hélio. Para se locomover, Carlinhos desenvolveu os outros sentidos, percebendo mudanças nas estações pelas paradas do trem.

Paixão pelo São Paulo

Carlinhos cresceu em uma família onde o pai era torcedor do Santos, mas desde pequeno decidiu ser são-paulino, influenciado por amigos na escola. Essa paixão se manteve ao longo dos anos.

E assim, assim como todo torcedor tricolor, Carlinhos celebrou a conquista do Campeonato Paulista de 2021, após a vitória sobre o Palmeiras, que encerrou um jejum de 9 anos sem títulos.

Você também já teve uma experiência marcante assistindo a um jogo do seu time do coração?

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